Garimpo que atraiu multidões nos anos 80 agora começa a ser explorado como uma mina moderna pela canadense Colossus. A velha vila dos garimpeiros, porém, permanece como testemunha do passado.
O garimpo de Serra Pelada, no sudeste do Pará, atraiu brasileiros de várias partes em busca de riqueza, durante os anos 80, período em que esteve em funcionamento. Gente simples, contaminada pela “febre do ouro”, veio trabalhar na imensa cava na montanha, que se transformou em um verdadeiro formigueiro humano, cujas imagens rodaram o Brasil e o mundo na época.
O garimpo foi fechado pelo Governo Federal nos anos 90, mas agora a produção de ouro promete renascer por meio de uma mina moderna operada pela empresa canadense Colossus, que se associou à Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), que conseguiu os direitos de lavra após a mineradora Vale, antiga detentora, abrir mão deles.
O local pouco lembra a confusão de homens enlameados que trabalhavam no imenso buraco aberto na terra do maior garimpo a céu aberto do mundo. Hoje, a cava se transformou em um lago pelo acúmulo da água da chuva e de lama.
Foi esse cenário que a reportagem da ANBA visitou nesta quinta-feira (07), como integrante da Jornada E.torQ, viagem de carro de São Paulo à Amazônia Paraense organizada pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros e patrocinada pela Fiat, Goodyear e Tesacom.
A Colossus começou as obras da mina em junho deste ano, nas proximidades do antigo garimpo. A escavação, por enquanto feita por escavadeiras, avançou cerca de 40 metros de distância e quatro de profundidade, mas com a chegada em breve de dois “tatuzões”, perfuratrizes gigantes semelhantes às usadas para abrir túneis de metrô, o trabalho deve avançar a passos largos e a produção está prevista para começar em dezembro do próximo ano.
Deverão ser extraídas mil toneladas de minério por dia da mina, com uma concentração de ouro que pode variar de 7,5 a 20 gramas por tonelada, de acordo com o diretor geral do projeto, Luiz Carlos Celaro. “É um teor considerado elevado”, disse. Nesse sentido, o empreendimento promete alta rentabilidade.
Para efeito de comparação, ele informou que a mina de Paracatu, em Minas Gerais, onde trabalhou antes, apresenta uma concentração média de 0,45 grama de ouro por tonelada, e ainda assim é rentável por causa do alto preço atual do metal.
O projeto prevê quatro quilômetros de túneis e galerias, que vão atingir uma profundidade de 400 metros ao redor do antigo garimpo. Para tanto, a água que formou o lago será drenada para reduzir a pressão sobre as estruturas.
O investimento total está previsto em US$ 80 milhões, de acordo com Celaro, e já foram investidos cerca de R$ 50 milhões em pesquisa, obras e ações sociais na comunidade que ainda vive na velha Vila de Serra Pelada, base dos garimpeiros.
Cerca de 80 mil homens chegaram a trabalhar no local, poucos tiveram sucesso, outros obtiveram riqueza, para depois perdê-la, e muitos deixaram a região tão pobres quanto chegaram. Para dar uma ideia, o município de Curionópolis - batizado em homenagem a Sebastião Curió, militar que foi o todo poderoso coordenador do garimpo – tinha 38.678 habitantes em 1991, população que caiu para 17.944 pessoas em 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cidade (quase) fantasma
Sem recursos para se mudar, ou simplesmente esperançosas em ainda poder lucrar com o ouro da região, cerca de 600 famílias permanecem na miserável Vila de Serra Pelada, um pequeno povoado com ruas de terra batida, casas de madeira e sem saneamento básico. Ao contrário das “cidades cogumelo”, que surgiram e desapareceram completamente durante a Corrida do Ouro nos Estados Unidos do século 19, o vilarejo paraense insiste em existir como uma testemunha morta-viva do passado recente.
Nesse local, a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral, joint-venture formada pela Colossus e a Coomigasp para desenvolver o projeto, investe em ações como atendimento médico, coleta de lixo, reforma de escolas, terraplanagem da estrada que liga Curionópolis à comunidade, doações, criação de um centro de treinamento profissional e atividades de lazer. Os ex-garimpeiros que moram lá são, em sua maioria, idosos, e muitas dessas iniciativas são voltadas para seus filhos e netos.
A Colossus tem 75% do negócio e a Coomigasp, 25%. A cooperativa tem cerca de 42 mil associados, ou seja, apenas uma pequena parcela continua a viver em Serra Pelada, mas a frustração frente à miséria de décadas permanece e a região continua sujeita a conflitos.
Os gestores do projeto procuram absorver mão-de-obra local. Filhos de garimpeiros, por exemplo, integram a equipe de segurança do empreendimento, num total de 54 pessoas.
Filha do garimpo
Uma das histórias de vida fortemente influenciadas pelo garimpo é a da atual vice-prefeita de Curionópolis, Iraides Campos. Ele chegou à região em 1981, quando tinha 15 anos, trazida pelos pais. O pai era agricultor em Goiás e veio para Serra Pelada tentar a sorte como garimpeiro. Segundo Iraides, ele ficou “bamburrado”, expressão usada para designar um garimpeiro que encontrou muito ouro.
“Meu pai continua aqui [em Curionópolis] hoje, mas ficou pobre”, disse a vice-prefeita. “Isso aconteceu com todos os garimpeiros que ‘bamburraram’”, acrescentou. Ela, no entanto, conseguiu construir sua vida no município. Separada e mãe de duas filhas que estão na faculdade, Iraides é dona do jornal semanal O Regional, de uma agência de publicidade e de uma imobiliária.
Ela acredita que a cidade está prestes a entrar em um ciclo de desenvolvimento, pois, além do projeto da Colossus, a Vale planeja produzir minério de ferro em uma área chamada Serra Leste, extensão de Carajás que fica dentro do município, o que deve gerar muitos empregos diretos e indiretos.
A esperança reside na comparação com a vizinha Parauapebas, onde está localizada a mina de Carajás. Lá a população e os negócios aumentam e condomínios residenciais de alto padrão estão sendo lançados. Para dar uma ideia, o PIB per capita em Parauapebas é de R$ 23 mil, enquanto o de Curionópolis é de R$ 4,4 mil, segundo o IBGE.
Fonte: Alexandre Rocha, enviado especial da ANBA
O garimpo foi fechado pelo Governo Federal nos anos 90, mas agora a produção de ouro promete renascer por meio de uma mina moderna operada pela empresa canadense Colossus, que se associou à Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), que conseguiu os direitos de lavra após a mineradora Vale, antiga detentora, abrir mão deles.
O local pouco lembra a confusão de homens enlameados que trabalhavam no imenso buraco aberto na terra do maior garimpo a céu aberto do mundo. Hoje, a cava se transformou em um lago pelo acúmulo da água da chuva e de lama.
Foi esse cenário que a reportagem da ANBA visitou nesta quinta-feira (07), como integrante da Jornada E.torQ, viagem de carro de São Paulo à Amazônia Paraense organizada pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros e patrocinada pela Fiat, Goodyear e Tesacom.
A Colossus começou as obras da mina em junho deste ano, nas proximidades do antigo garimpo. A escavação, por enquanto feita por escavadeiras, avançou cerca de 40 metros de distância e quatro de profundidade, mas com a chegada em breve de dois “tatuzões”, perfuratrizes gigantes semelhantes às usadas para abrir túneis de metrô, o trabalho deve avançar a passos largos e a produção está prevista para começar em dezembro do próximo ano.
Deverão ser extraídas mil toneladas de minério por dia da mina, com uma concentração de ouro que pode variar de 7,5 a 20 gramas por tonelada, de acordo com o diretor geral do projeto, Luiz Carlos Celaro. “É um teor considerado elevado”, disse. Nesse sentido, o empreendimento promete alta rentabilidade.
Para efeito de comparação, ele informou que a mina de Paracatu, em Minas Gerais, onde trabalhou antes, apresenta uma concentração média de 0,45 grama de ouro por tonelada, e ainda assim é rentável por causa do alto preço atual do metal.
O projeto prevê quatro quilômetros de túneis e galerias, que vão atingir uma profundidade de 400 metros ao redor do antigo garimpo. Para tanto, a água que formou o lago será drenada para reduzir a pressão sobre as estruturas.
O investimento total está previsto em US$ 80 milhões, de acordo com Celaro, e já foram investidos cerca de R$ 50 milhões em pesquisa, obras e ações sociais na comunidade que ainda vive na velha Vila de Serra Pelada, base dos garimpeiros.
Cerca de 80 mil homens chegaram a trabalhar no local, poucos tiveram sucesso, outros obtiveram riqueza, para depois perdê-la, e muitos deixaram a região tão pobres quanto chegaram. Para dar uma ideia, o município de Curionópolis - batizado em homenagem a Sebastião Curió, militar que foi o todo poderoso coordenador do garimpo – tinha 38.678 habitantes em 1991, população que caiu para 17.944 pessoas em 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cidade (quase) fantasma
Sem recursos para se mudar, ou simplesmente esperançosas em ainda poder lucrar com o ouro da região, cerca de 600 famílias permanecem na miserável Vila de Serra Pelada, um pequeno povoado com ruas de terra batida, casas de madeira e sem saneamento básico. Ao contrário das “cidades cogumelo”, que surgiram e desapareceram completamente durante a Corrida do Ouro nos Estados Unidos do século 19, o vilarejo paraense insiste em existir como uma testemunha morta-viva do passado recente.
Nesse local, a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral, joint-venture formada pela Colossus e a Coomigasp para desenvolver o projeto, investe em ações como atendimento médico, coleta de lixo, reforma de escolas, terraplanagem da estrada que liga Curionópolis à comunidade, doações, criação de um centro de treinamento profissional e atividades de lazer. Os ex-garimpeiros que moram lá são, em sua maioria, idosos, e muitas dessas iniciativas são voltadas para seus filhos e netos.
A Colossus tem 75% do negócio e a Coomigasp, 25%. A cooperativa tem cerca de 42 mil associados, ou seja, apenas uma pequena parcela continua a viver em Serra Pelada, mas a frustração frente à miséria de décadas permanece e a região continua sujeita a conflitos.
Os gestores do projeto procuram absorver mão-de-obra local. Filhos de garimpeiros, por exemplo, integram a equipe de segurança do empreendimento, num total de 54 pessoas.
Filha do garimpo
Uma das histórias de vida fortemente influenciadas pelo garimpo é a da atual vice-prefeita de Curionópolis, Iraides Campos. Ele chegou à região em 1981, quando tinha 15 anos, trazida pelos pais. O pai era agricultor em Goiás e veio para Serra Pelada tentar a sorte como garimpeiro. Segundo Iraides, ele ficou “bamburrado”, expressão usada para designar um garimpeiro que encontrou muito ouro.
“Meu pai continua aqui [em Curionópolis] hoje, mas ficou pobre”, disse a vice-prefeita. “Isso aconteceu com todos os garimpeiros que ‘bamburraram’”, acrescentou. Ela, no entanto, conseguiu construir sua vida no município. Separada e mãe de duas filhas que estão na faculdade, Iraides é dona do jornal semanal O Regional, de uma agência de publicidade e de uma imobiliária.
Ela acredita que a cidade está prestes a entrar em um ciclo de desenvolvimento, pois, além do projeto da Colossus, a Vale planeja produzir minério de ferro em uma área chamada Serra Leste, extensão de Carajás que fica dentro do município, o que deve gerar muitos empregos diretos e indiretos.
A esperança reside na comparação com a vizinha Parauapebas, onde está localizada a mina de Carajás. Lá a população e os negócios aumentam e condomínios residenciais de alto padrão estão sendo lançados. Para dar uma ideia, o PIB per capita em Parauapebas é de R$ 23 mil, enquanto o de Curionópolis é de R$ 4,4 mil, segundo o IBGE.
Fonte: Alexandre Rocha, enviado especial da ANBA
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